segunda-feira, 8 de março de 2010

ATIVIDADE 9

As inter-relações entre língua e cultura.

Objetivo da atividade: Relacionar língua e cultura.

Começamos nossa aula lendo um texto de Carlos Drummond de Andrade. “Retrato de velho”.

Retrato de velho
Tem horror a criança. Solenemente, faz do bisneto, que lhe sumiu com a palha de cigarro, para vingar-se de seus ralhos intempestivos. Menino é bicho ruim, comenta. Ao chegar a avô, era terno e até meloso, mas a idade o torna coriáceo.
No trocar de roupa, atira no chão as peças usadas. Alguém as recolhe à cesta, para lavar. Ele suspeita que pretendem subtraí-las, vai à cesta, vasculha, retira o que é seu, lava-o, passa-o. Mal, naturalmente.
– Da próxima vez que ele vier, diz a nora, terei de fechar o registro, para evitar que ele desperdice água.
Espanta-se com os direitos concedidos às empregadas. Onde já se viu? Isso aqui é o paraíso das criadas. A patroa acorda cedo para despertar a cozinheira. Ele se levanta mais cedo ainda, e vai acordar a dona de casa:
– Acorda, sua mandriona, o dia já clareou!
As empregadas reagem contra a tirania, despedem-se. E sem empregadas, sua presença ainda é mais terrível.
As netas adolescentes recebem amigos. Um deles, o pintor, foi acometido de mal súbito e teve de deitar-se na cama de uma das garotas. Indignação: Que pouca-vergonha é essa? Esse bandalho aí conspurcando o leito de uma virgem? Ou quem sabe se nem é mais virgem?
– Vovô, o senhor é um monstro!
E é um custo impedir ele escaramuce o doente para fora de casa.
– A senhora deixa suas filhas irem ao baile sozinhas com rapazes? Diga, a senhor deixa?
– Não vão sozinhas, vão com os rapazes.
– Pior ainda! Muito pior! A obrigação dos pais é acompanhar as filhas a tudo quanto é festa.
– Papai, a gente nem pode entrar lá com as meninas. É coisa de brotos.
– É, não é? Pois me dá depressa o chapéu para eu ir lá dizer poucas e boas!
Não se sabe o que fazer dele. Que fim se pode dar a velhos implicantes? O jeito é guardá-lo por três meses, e nova mudança, nas mesmas condições. O velho é duro:
– Vocês me deixam esbodegado, vocês são insuportáveis! – queixa-se ao sair. Mas volta.
– Descobri que paciência é uma forma de amor – diz-me uma das filhas, sorrindo.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Retrato de velho. In A bolsa & a vida. Rio de Janeiro, 1962. P. 207 -209.



Avançando na prática.


Procedimentos:

Distribui uma cópia do texto “retrato do velho” para cada aluno e pedi que fizessem uma leitura silenciosa da crônica de Carlos Drummond de Andrade.

Expliquei à turma a diferença entre discurso direto e discurso indireto e chamei-lhes a atenção para o tipo de discurso que o autor escolheu para essa crônica, que é o discurso direto. Pedi que identificassem dentro do texto as características desse tipo de discurso, haja vista que eu já tinha explorado antes.

Após a identificação das características formais do discurso direto, que é forma escolhida para apresentar a fala ou o pensamento das personagens, dividi a sala em grupos, para que ensaiassem a leitura dramatizada. Expliquei-lhes que deveriam fazer a distribuição de papéis, incluindo o narrador, e pensando até no tipo de voz e no sexo dos personagens.

Pedi que cada grupo fizesse a leitura dramatizada do texto, enquanto os outros grupos ficavam como avaliadores. Ressaltei a importância da crítica para que todos, depois de julgados tentassem fazer uma leitura mais adequada para este tipo de texto e a nível de 8° ano.

Por fim escolhemos o grupo que apresentou a melhor performance, de acordo como ponto de vista dos outros grupos e do meu, claro. Levamos em consideração a entonação da voz, pontuação e expressão corporal.

Avaliando a prática

Além de observar os aspectos formais da estrutura do texto, avaliamos o sentido do texto, a intenção do autor em mostrar os valores pessoais de que os grupos são constituídos historicamente, expressando a cultura dessas pessoas ou grupos, dependendo das experiências de vida dos indivíduos e de seu grupo, que ocorre em determinado época e lugar.
Nesta crônica nos divertimos não simplesmente com um avô ranzinza, mas com o conflito cultural de gerações: Os valores daquele homem de 85 anos são diferentes dos de seus filhos, noras e genros.

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